Dica de leitura da Professora Susana Kampff
Romance vigoroso de Fontane
joga luz sobre a submissão da figura feminina na
sociedade alemã do século XIX
Obra de 1894 integra o
calendário de lançamentos da
Estação Liberdade no âmbito da Temporada
Alemanha + Brasil 2013-2014
Effi
Briest, de Theodor Fontane •
Tradução de Mário Frungillo •
Posfácio de Gotthard Erler • 14 x 21 cm •
424 páginas • ISBN: 978-85-7448-222-4 •
R$ 49,00
Escrita pelo mestre do realismo neorromântico
alemão Theodor Fontane,
Effi Briest é
a história de um adultério pela perspectiva
feminina, ambientada na segunda metade do século XIX.
Assim, o livro forma uma espécie de trilogia europeia
espontânea ao lado dos clássicos
Anna
Karenina e
Madame Bovary. Considerada a obra
máxima de Fontane, Effi Briest permanece extremamente
popular até hoje.
A submissão às normas sociais na
Brandemburgo da época faz a jovem Effi Briest
sucumbir a um matrimônio indesejado. Seu marido, o
barão Von Innstetten, tem o dobro de sua idade e
é um burocrata mais preocupado em fazer carreira do
que em agradar a sonhadora Effi, que idealiza o amor
acalentado dos livros, bem diferente daquele que ela deveras
nutre pelo marido. Longe da inocência, no entanto, ela
não ignora que um homem como o barão possa lhe
proporcionar uma vida de bonança e
aparências.
Enquanto Effi deseja desfrutar dos prazeres mundanos e
ascender socialmente, Von Innstetten persegue suas
ambições políticas e leva Effi a viver
na pequena cidade de Kessin, onde ela passa, sozinha, dias
de avassaladora monotonia. A vida insossa no interior e o
relacionamento frio com um esposo pouco amoroso aproximam
Effi de certas tentações, personificadas,
sobretudo, na figura de Crampas, um homem também
casado e que ostenta uma reputação nada
lisonjeira.
Theodor Fontane elabora aqui um retrato realista sobre a
posição da mulher na sociedade, numa narrativa
livre de maniqueísmos simplistas, o que leva o leitor
ora a condenar as decisões da protagonista, ora a
torcer com ardor por ela. Considerada a obra máxima
de Theodor Fontane,
Effi Briest compila as
características mais caras ao autor, notadamente a
habilidade na construção de atmosferas e
diálogos privados, inseridos na devida
ambientação social e política do pano
de fundo. Acompanhamos, portanto, o drama pessoal da
personagem, sem perder de vista aspectos como a
corrupção generalizada que então
dominava a Prússia.
Publicada originalmente entre outubro de 1894 e
março de 1895 num periódico literário,
a obra chegou a ser apontada por Thomas Mann como uma das
novelas fundamentais da ficção mundial.
Originalmente, saiu como folhetim no jornal
Deutsche
Rundschau, a partir de 1894; no ano seguinte, é
lançado em formato livro, pelo qual alcança um
sucesso instantâneo de público, com cinco
reimpressões em um ano. A obra também
já teve algumas adaptações para o
cinema — a mais famosa delas foi dirigida por Rainer
Werner Fassbinder, em 1974, com a luminosa
atuação de Hanna Schygulla no
papel-título.
A presente edição de
Effi Briest
conta com apoio de fomento à tradução
oferecido pelo Instituto Goethe, em
comemoração ao ano da Alemanha no Brasil. O
evento tem motivado forte investimento da
Estação Liberdade em traduções
de língua alemã no país, das quais se
incluem, entre outras,
Reflexões do gato
Murr, de E.T.A. Hoffmann, e
Divã, de
Johann Wolfgang von Goethe.
O AUTOR
Theodor Fontane, já chamado de “Émile
Zola da Prússia”, nasceu em 1819, em Neuruppin,
a noroeste de Berlim. De ascendência huguenote, ele
torna-se farmacêutico aos 16 anos, seguindo os passos
do pai, ao mesmo tempo em que produz seus primeiros poemas e
textos políticos para o periódico anarquista
Dresdner Zeitung. Abandona enfim a atividade
farmacêutica em 1849 para dedicar-se exclusivamente
à literatura e ao jornalismo. Vive alguns anos na
Inglaterra, como correspondente de dois jornais prussianos.
Seu primeiro livro,
Männer und
Helden (Homens e heróis), é
lançado em 1850. A partir de 1862, produz a
série de cinco livros
Wanderungen durch die Mark
Brundenburg (Caminhando por Brandemburgo), cujo
esmero com o qual se debruça na
descrição de castelos, monastérios e
logradouros da província alemã em
questão reafirma o gosto do autor pelo chamado
realismo literário, no qual ele se consagraria.
Prolífico, escreveu dezenas de novelas (uma,
inclusive, publicada postumamente:
Der Stechlin
/ 1899). Fontane falece em 1898, em
Berlim.
TRECHOS
“Dizem que Crampas é um homem que já
teve muitos relacionamentos, um conquistador, algo que
sempre me parece ridículo e também nesse caso
seria ridículo se ele não tivesse se batido em
duelo com um camarada justamente por esse motivo. Seu
braço esquerdo ficou destroçado bem abaixo do
ombro, o que se percebe à primeira vista, embora,
segundo Innstetten me contou, a operação tenha
sido considerada uma obra‑prima da medicina.”
[p.145]
“No mesmo dia, o barão Innstetten se tornou
o noivo de Effi Briest. Durante o banquete de noivado, que
veio a seguir, o jovial pai da noiva, um tanto deslocado em
seu solene papel, ergueu um brinde ao novo casal, provocando
uma viva comoção na senhora Von Briest, que
devia estar pensando nos acontecimentos de quase dezoito
anos antes. Mas não por muito tempo; não
pudera ser ela, então em seu lugar seria a filha; o
que, bem pesadas as coisas, era bom também, ou
até melhor. (...) No final do almoço, quando o
sorvete já fora servido, o velho conselheiro tomou da
palavra mais uma vez para, numa segunda
alocução, propor que todos abandonassem as
formas de tratamento cerimoniosas. Dizendo isso,
abraçou Innstetten e o beijou na bochecha
esquerda.” [p.27]
“Conforme o prometido, Innstetten escrevia todo
dia; mas o que tornava a chegada de suas cartas
agradável era o fato de ele exigir como resposta
apenas uma breve cartinha por semana. E ele a recebia, e o
conteúdo deliciosamente insignificante sempre o
encantava. Quem tratava dos assuntos sérios com o
genro era a senhora Von Briest: decisões a respeito
das núpcias, questões referentes ao enxoval,
às finanças e à
instalação do casal. Innstetten, ocupando o
cargo havia já três anos, se não estava
muito bem instalado em sua residência de Kessin, ao
menos não destoava do que convinha à sua
posição; e era aconselhável se fazer,
através das cartas trocadas com ele, uma ideia de
tudo o que havia na casa, a fim de evitar
aquisições inúteis.” [p.31]
“Só o que havia de mais elegante lhe
agradava, e se não podia ter o melhor, renunciava ao
que vinha em segundo lugar, pois para ela esse segundo lugar
nada mais significava. Sim, era capaz de renunciar,
nisso a mãe tinha razão, e nessa capacidade de
renúncia havia algo de modéstia; mas quando,
excepcionalmente, se tratava de possuir algo, esse algo
tinha de ser sempre especial. E nisso era
exigente.” [p.33/34]