Objetivos

Este blog faz parte do projeto de monitoria "Saber com sabor: o uso de recursos áudio-visuais e digitais no ensino de Literatura Alemã", coordenado pela Prof.ª Susana Kampff Lages, para as disciplinas da área de Literatura do Curso de Bacharelado e Licenciatura em Letras - Português/Alemão da Universidade Federal Fluminense. O blog tem como objetivo principal ser uma ferramenta de apoio no processo de ensino/aprendizagem dessas disciplinas. Imagens fotográficas e de obras de arte, trechos de peças de música clássica ou popular, trechos de filmes, trechos de obras literárias ou de crítica, traduções e outros materiais pertinentes à cultura literária alemã e aos temas tratados em aula poderão ser postados por estudantes e professores. O blog tende a ser um lugar tanto de diálogo entre docentes e estudantes, quanto de ajuda mútua entre os próprios estudantes, que assim podem trocar experiências de leitura e estudo.

terça-feira, 13 de agosto de 2013








 Dica de leitura da Professora Susana Kampff
 

Romance vigoroso de Fontane joga luz sobre a submissão da figura feminina na sociedade alemã do século XIX

Obra de 1894 integra o calendário de lançamentos da Estação Liberdade no âmbito da Temporada Alemanha + Brasil 2013-2014

Effi Briest, de Theodor Fontane • Tradução de Mário Frungillo • Posfácio de Gotthard Erler • 14 x 21 cm • 424 páginas • ISBN: 978-85-7448-222-4 • R$ 49,00

 


Escrita pelo mestre do realismo neorromântico alemão Theodor Fontane, Effi Briest é a história de um adultério pela perspectiva feminina, ambientada na segunda metade do século XIX. Assim, o livro forma uma espécie de trilogia europeia espontânea ao lado dos clássicos Anna Karenina e Madame Bovary. Considerada a obra máxima de Fontane, Effi Briest permanece extremamente popular até hoje.
A submissão às normas sociais na Brandemburgo da época faz a jovem Effi Briest sucumbir a um matrimônio indesejado. Seu marido, o barão Von Innstetten, tem o dobro de sua idade e é um burocrata mais preocupado em fazer carreira do que em agradar a sonhadora Effi, que idealiza o amor acalentado dos livros, bem diferente daquele que ela deveras nutre pelo marido. Longe da inocência, no entanto, ela não ignora que um homem como o barão possa lhe proporcionar uma vida de bonança e aparências.
Enquanto Effi deseja desfrutar dos prazeres mundanos e ascender socialmente, Von Innstetten persegue suas ambições políticas e leva Effi a viver na pequena cidade de Kessin, onde ela passa, sozinha, dias de avassaladora monotonia. A vida insossa no interior e o relacionamento frio com um esposo pouco amoroso aproximam Effi de certas tentações, personificadas, sobretudo, na figura de Crampas, um homem também casado e que ostenta uma reputação nada lisonjeira.
Theodor Fontane elabora aqui um retrato realista sobre a posição da mulher na sociedade, numa narrativa livre de maniqueísmos simplistas, o que leva o leitor ora a condenar as decisões da protagonista, ora a torcer com ardor por ela. Considerada a obra máxima de Theodor Fontane, Effi Briest compila as características mais caras ao autor, notadamente a habilidade na construção de atmosferas e diálogos privados, inseridos na devida ambientação social e política do pano de fundo. Acompanhamos, portanto, o drama pessoal da personagem, sem perder de vista aspectos como a corrupção generalizada que então dominava a Prússia.
Publicada originalmente entre outubro de 1894 e março de 1895 num periódico literário, a obra chegou a ser apontada por Thomas Mann como uma das novelas fundamentais da ficção mundial. Originalmente, saiu como folhetim no jornal Deutsche Rundschau, a partir de 1894; no ano seguinte, é lançado em formato livro, pelo qual alcança um sucesso instantâneo de público, com cinco reimpressões em um ano. A obra também já teve algumas adaptações para o cinema — a mais famosa delas foi dirigida por Rainer Werner Fassbinder, em 1974, com a luminosa atuação de Hanna Schygulla no papel-título.
A presente edição de Effi Briest conta com apoio de fomento à tradução oferecido pelo Instituto Goethe, em comemoração ao ano da Alemanha no Brasil. O evento tem motivado forte investimento da Estação Liberdade em traduções de língua alemã no país, das quais se incluem, entre outras, Reflexões do gato Murr, de E.T.A. Hoffmann, e Divã, de Johann Wolfgang von Goethe.

O AUTOR
Theodor Fontane, já chamado de “Émile Zola da Prússia”, nasceu em 1819, em Neuruppin, a noroeste de Berlim. De ascendência huguenote, ele torna-se farmacêutico aos 16 anos, seguindo os passos do pai, ao mesmo tempo em que produz seus primeiros poemas e textos políticos para o periódico anarquista Dresdner Zeitung. Abandona enfim a atividade farmacêutica em 1849 para dedicar-se exclusivamente à literatura e ao jornalismo. Vive alguns anos na Inglaterra, como correspondente de dois jornais prussianos. Seu primeiro livro, Männer und Helden (Homens e heróis), é lançado em 1850. A partir de 1862, produz a série de cinco livros Wanderungen durch die Mark Brundenburg (Caminhando por Brandemburgo), cujo esmero com o qual se debruça na descrição de castelos, monastérios e logradouros da província alemã em questão reafirma o gosto do autor pelo chamado realismo literário, no qual ele se consagraria. Prolífico, escreveu dezenas de novelas (uma, inclusive, publicada postumamente: Der Stechlin / 1899). Fontane falece em 1898, em Berlim.

TRECHOS
“Dizem que Crampas é um homem que já teve muitos relacionamentos, um conquistador, algo que sempre me parece ridículo e também nesse caso seria ridículo se ele não tivesse se batido em duelo com um camarada justamente por esse motivo. Seu braço esquerdo ficou destroçado bem abaixo do ombro, o que se percebe à primeira vista, embora, segundo Innstetten me contou, a operação tenha sido considerada uma obra‑prima da medicina.” [p.145]
“No mesmo dia, o barão Innstetten se tornou o noivo de Effi Briest. Durante o banquete de noivado, que veio a seguir, o jovial pai da noiva, um tanto deslocado em seu solene papel, ergueu um brinde ao novo casal, provocando uma viva comoção na senhora Von Briest, que devia estar pensando nos acontecimentos de quase dezoito anos antes. Mas não por muito tempo; não pudera ser ela, então em seu lugar seria a filha; o que, bem pesadas as coisas, era bom também, ou até melhor. (...) No final do almoço, quando o sorvete já fora servido, o velho conselheiro tomou da palavra mais uma vez para, numa segunda alocução, propor que todos abandonassem as formas de tratamento cerimoniosas. Dizendo isso, abraçou Innstetten e o beijou na bochecha esquerda.” [p.27]
“Conforme o prometido, Innstetten escrevia todo dia; mas o que tornava a chegada de suas cartas agradável era o fato de ele exigir como resposta apenas uma breve cartinha por semana. E ele a recebia, e o conteúdo deliciosamente insignificante sempre o encantava. Quem tratava dos assuntos sérios com o genro era a senhora Von Briest: decisões a respeito das núpcias, questões referentes ao enxoval, às finanças e à instalação do casal. Innstetten, ocupando o cargo havia já três anos, se não estava muito bem instalado em sua residência de Kessin, ao menos não destoava do que convinha à sua posição; e era aconselhável se fazer, através das cartas trocadas com ele, uma ideia de tudo o que havia na casa, a fim de evitar aquisições inúteis.” [p.31]
“Só o que havia de mais elegante lhe agradava, e se não podia ter o melhor, renunciava ao que vinha em segundo lugar, pois para ela esse segundo lugar nada mais significava. Sim, era capaz de renunciar, nisso a mãe tinha razão, e nessa capacidade de renúncia havia algo de modéstia; mas quando, excepcionalmente, se tratava de possuir algo, esse algo tinha de ser sempre especial. E nisso era exigente.” [p.33/34]

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