Objetivos

Este blog faz parte do projeto de monitoria "Saber com sabor: o uso de recursos áudio-visuais e digitais no ensino de Literatura Alemã", coordenado pela Prof.ª Susana Kampff Lages, para as disciplinas da área de Literatura do Curso de Bacharelado e Licenciatura em Letras - Português/Alemão da Universidade Federal Fluminense. O blog tem como objetivo principal ser uma ferramenta de apoio no processo de ensino/aprendizagem dessas disciplinas. Imagens fotográficas e de obras de arte, trechos de peças de música clássica ou popular, trechos de filmes, trechos de obras literárias ou de crítica, traduções e outros materiais pertinentes à cultura literária alemã e aos temas tratados em aula poderão ser postados por estudantes e professores. O blog tende a ser um lugar tanto de diálogo entre docentes e estudantes, quanto de ajuda mútua entre os próprios estudantes, que assim podem trocar experiências de leitura e estudo.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Goethe - Maifest, 1775


Maifest

Wie herrlich leuchtet
Mir die Natur!
Wie glänzt die Sonne!
Wie lacht die Flur!
        
Es dringen Blüten
Aus jedem Zweig,
Und tausend Stimmen
Aus dem Gesträuch,
         
Und Freud und Wonne
Aus jeder Brust.
O Erd, o Sonne!
O Glück, o Lust!
         
O Lieb', o Liebe,
So golden schön,
Wie Morgenwolken
Auf jenen Höhn;
         
Du segnest herrlich
Das frische Feld,
Im Blütendampfe
Die volle Welt.
         
O Mädchen, Mädchen,
Wie lieb' ich dich!
Wie blickt dein Auge!
Wie liebst du mich!
        
So liebt die Lerche
Gesang und Luft,
Und Morgenblumen
Den Himmels Duft,
         
Wie ich dich liebe
Mit warmem Blut,
Die du mir Jugend
Und Freud und Mut
         
Zu neuen Liedern
Und Tänzen gibst!
Sei ewig glücklich
Wie du mich liebst!




Tilman Rammstedt, Acerca de Maifest de Goethe.

(Em uma noite quente de maio na Alsácia, Goethe e Friederike Brion estão sentados em uma paisagem pitoresca sobre um banco não menos idílico. Goethe se aproxima paulatinamente de Friederike, age como se tivesse que esticar-se, e, com isso, envolve-a com um braço.)
Goethe: (delirante) Quão maravilhosa a natureza brilha para mim!
Friederike: Como assim?
Goethe: (enfático) Quão maravilhosa a natureza brilha para mim!
Friederike: Isso é uma pergunta?
Goethe: Não, não, é uma exclamação nesta maravilhosa noite. (Baixinho) E, além disso, é o início do meu mais novo poema.
Friederike: Ah, você escreve? Eu não sabia. Pensei que fosse jurista.
Goethe: Aqui e ali eu rabisco pequenas coisas, mais para as gavetas. Esse poema eu escrevi para você.
Friederike: (enrubescida) Oh, isso não era necessário!
Goethe: Você gostaria de ouvir?
Friederike: (hesitante) Agora, imediatamente? Por acaso você o sabe de cor?
Goethe: (embaraçado) Ah não, não totalmente. Mas por coincidência o poema está comigo. (Retira com sua mão livre um pedaço de papel do bolso.) Então, posso começar?
Friederike: (pouco entusiasmada) Se não for muito longo. Eu já estou um pouco cansada.
Goethe: (ofendido) Não, é muito curto. Então, começo ou não? Posso deixar pra lá.
Friederike: Não, não, leia por favor. Nunca alguém escreveu um poema para mim.
Goethe: Tá bom, se você quer. (Pigarreou) “Quão maravilhosa a natureza brilha para mim!” Esse verso eu já tinha lido, e poderia ter omitido para ser mais rápido. Tudo bem. “Como brilha o sol!/Como sorri o campo!” – E, o que você acha até agora?
Friederike: Bonito, muito bonito. E o melhor é o sol sorridente.
Goethe: Mas o sol não sorri! O campo sorri! É assim. Todos pensam que o sol sorri, e então ele não faz isso, somente brilha. E quando todos não contavam mais com nada, é a campina que sorri.
Friederike: Ahã.
Goethe: Então, segunda estrofe: “Surgem brotos de flores/ de todos os ramos,/ E mil vozes/ dos arbustos”.
Friederike: Você tem certeza que arbustos rima com ramos?
Goethe: (exaltado) Eu estava muito agitado enquanto escrevia para me preocupar com essas coisas. Tudo surge de mim com ímpeto, e transborda. E, além disso, todas essas convenções tradicionais! Elas precisam ser quebradas para que o homem superior, o gênio, possa respirar livre. (afrouxa o colarinho).
Friederike: Não se irrite de novo, querido. Com certeza o homem superior vai respirar livre. Continue a ler pois está muito interessante.
Goethe: (confuso) Onde eu estava? Ah, sim: “A alegria e felicidade/ do fundo do peito./ Oh terra, oh sol,/ oh felicidade, oh desejo,” (sarcástico) peito e desejo rimam, ou não?
Friederike: Rimam muito bem.
Goethe: (meio monótono) “Oh amor, oh amor/ belo como ouro/ como nuvens de manhã/ do alto”.
Friederike: Desculpe, interromper. Você está realmente certo de que recita a poesia correta?
Goethe: (irritado) Claro. Por que?
Friederike: Até agora não fui mencionada.
Goethe: Tenha um pouco mais de paciência. Você já vai aparecer. (Antevendo sua alegria) “Você abençoa maravilhosamente/ o campo fresco” –Você ainda não é aquele que abençoa, isso ainda é o amor em si.-Na exalação das flores/ o mundo todo.” Agora (com o dedo em riste) “Oh menina, oh menina,/ Como eu te amo!/ Como brilha seu olho,/ Como você me ama!”
(Goethe olha ansiosamente para Friederike. Ela se solta e cruza os braços sobre o peito.)
Friederike: E por favor, qual dos meus olhos não brilha?
Goethe: Ambos brilham.
Friederike: Mas você escreve:’seu olho”. Um parece não brilhar, e apenas vagar de maneira apática ao redor.
Goethe: “Seus olhos” não ficaria bem, metricamente.
Friederike: Ahã, isso aí é novamente importante. Rimas puras são sem importância, rimas puras impedem o homem superior Goethe de respirar, mas na métrica tudo tem que encaixar, não interessando quantos olhos fiquem pelo caminho.
Goethe: (acalmando) Mudo tudo agora. Prometo. (Faz como se estivesse escrevendo algo) Pronto.”Como brilham seus olhos, sem exceção!/ Como você me ama!” Satisfeita? E continua assim: ”Assim ama a cotovia/ Canto e ar,/ E flores da manhã/ o cheiro do céu.”
Friederike: Agora vem de novo flores da manhã. Flores da manhã já foram mencionadas algumas estrofes antes. Para mim basta um olho, mas as flores da manhã você não consegue descrever o suficiente. Case, então, com suas flores da manhã.
Goethe: (irritado) As nuvens da manhã eu já mencionei. Se você tivesse prestado atenção, você saberia. As flores da manhã são novas.
Friederike: O que significa isso, flores da manhã? Eu nunca tinha escutado.
Goethe: Isso não tem importância. Preste atenção. Agora é sobre você.”Como eu te amo/ Com sangue quente/ Você me dá juventude/ E alegria, e coragem.”
Friederike: (interrompendo-o) Sangue quente? Morno talvez. Sangue quente você só tem quando fala de flores, e isso aparentemente só de manhã.
Goethe: (imperturbável, continua lendo, um pouco mais alto) “E novas músicas/ e danças.”
Friederike: Você quer apresentar uma dança?
Goethe: (rugindo) “Seja eternamente feliz,/ Como você me ama!”
Friederike: Como eu te amo, então?
Goethe: (ainda rugindo) Para sempre, como está escrito.
Friederike: (agora também rugindo) Isso eu já saberia.
Eles silenciam-se por um longo período. Em algum lugar um pássaro canta. Então Goethe rasga seu poema em pedaços, que por segurança não são pequenos demais. Para sua indignação Friederike não o impede.

O autor Tilman Rammstedt nasceu em 1975 em Bielefeld. Estudou filosofia e literatura comparada. Ganhou os renomados prêmios Ingeborg Bachmann e Annette-von-Droste Hülshoff. Tilman publicou as seguintes obras: Erledigungen vor der Feier (2003), Wir bleiben in der Nähe (2005) e Der Kaiser von China (2008). É membro do grupo musical e literário Fön.
Fonte Hans-Gerd Koch (org.), Sturm und Drang. Junge Autoren blicken auf eine Epoche. Düsseldorf: Artemis & Winkler, 2009.
Tradução Cíntia Sias, Letícia Mazzelli e os alunos da turma de Literatura Alemã V, Setor de Alemão, Universidade Federal Fluminense
Supervisão Prof. Dr. Johannes Kretschmer

Um comentário:

  1. Gosto muito deste conto!! É muito engraçado! =]
    A tradução ficou muito boa! Captou bem o espírito presente no Romantismo alemão e na história.
    Gostei muito =]

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